Por Renato Mello
Fotos: Linn Jardim
Terminou neste fim de semana a temporada de “Lucrécia”, que se apresentou no Sesc Tijuca durante o mês de fevereiro. O Botequim Cultural esteve na última semana da encenação e embora o espetáculo não esteja mais sendo encenado, creio ser importante deixar um registro do trabalho realizado.
A proposta idealizada pelo diretor Alexandre Mello é buscar a partir do universo da cineasta argentina Lucrecia Martel uma perspectiva sobre a vida através de uma investigação teatral com a alternância das sensações visuais/auditivas.
Lucrecia Martel é autora de uma das mais complexas obras cinematográficas do cinema latino-americano contemporâneo, uma referência de originalidade e construção de um mundo muito particular a partir de filmes como “La Cienaga”, “La Niña Santa” e “La Mujer Sin Cabeza”, em que aborda de forma crua os dramas de uma burguesia decadente, utilizando enquadramentos insólitos, com as ações muitas vezes se passando ao largo do olhar da câmera, num crescente psicológico e uma angústia que domina gradativamente a ambientação com a utilização dos sons como instrumento para alavancar o desconforto tanto dos personagens ou meramente do espectador.
Para a investigação de Alexandre Mello sobre um universo tão singular, Leandro Baumgratz desenvolveu uma linha dramática que transpõe sua ação para a Villa Lucrecia, numa “casa construída em 1890, por uma família de imigrantes portugueses, num subúrbio do Rio de Janeiro, como sede de uma fazenda, que já não existe. Atualmente vive em Villa Lucrecia a quarta geração da mesma família. Sulamita e Soriano formam uma família de classe média, que herdou a casa, já decadente. A tradição da sensibilidade das mulheres da família e seus dons de premonição, seguida por Sulamita e sua filha Miriam, estão entre as paredes de Villa Lucrecia, que está situada, atualmente, numa rua cheia de outras casas”.
Essa leitura pessoal de Leandro Baumgratz capta a essência básica da obra de Martel, ao mesmo tempo caminha por uma linha dramática própria, com o equilíbrio para desvincular-se da cineasta, mas sem trair a proposta inicial. Seu roteiro é bem delineado, com uma atmosfera que explora os aspectos deploráveis de um ambiente familiar decadente, tanto nas relações humanas, quanto no seu aspecto físico, se aprofundando no perfil psicológico dos personagens.
O processo de criação de Alexandre Mello amplifica nos sons uma maneira de expressar as sensações, consolidando positivamente sua perspectiva de exercício cênico. O diretor aproveita todas as plenitudes oferecidas pelo espaço físico que o Sesc Tijuca lhe proporciona, por onde desenvolve uma boa dinâmica, bom ritmo e consegue tirar proveito das possibilidades que o texto de Baumgratz proporciona para a composição dos personagens.
O elenco composto por Eliane Costa(Sulamita), Oscar Saraiva(Soriano), Guilherme Prates(Murilo), Nina Reis(Mirtes), Paula Loffler(Miriam), Rogério Garcia(Rodrigo), Jojo Rodrigues(Estefânia) e Luana Salazar(Clarice) tem uma boa atuação conjunta, com os atores se complementando e realizando um interessante jogo cênico ao longo de toda a apresentação. Eliane Costa se destaca com uma atuação que acentua sua personalidade sobre o eixo pelo qual gravitam todos os demais personagens, fazendo-se a dona de todas as ações, trabalhando com correção os aspectos que mais sobressaem de sua essência, desde os repugnantes, mesquinhos até na exploração das zonas do humor. Oscar Saraiva igualmente tem atuação relevante, embora em menor intensidade. Uma boa composição de um personagem que se refugia em um mundo particular como forma de fuga de um ambiente sufocante
A cenografia de Alexandre Mello busca na sua ambientação a atmosfera apropriada para a história contada, reproduzindo através dos móveis todo o processo decadência familiar ao mesmo tempo em que desnuda o fundo do cenário, utilizando criativamente as partes físicas que o teatro lhe oferece.
Os figurinos de Nina Reis ressaltam corretamente os aspectos das personalidades de cada personagem, numa criação bem contextualizada. Renato Machado valoriza com seu desenho de luz os momentos dramáticos mais relevantes.
“Lucrécia” trouxe para a cena teatral carioca um espetáculo que não abre mão de sua contribuição artística para recriar o universo polifônico da degradação humana, contido no cinema dessa extraordinária cineasta que é Lucrecia Martel.
Ficha técnica e artísticaDireção, cenografia e ideia original: Alexandre MelloTexto: Leandro BaumgratzProdução: Rogerio Garcia & Paula Loffler
ElencoEliane Costa é SulamitaOscar Saraiva é SorianoGuilherme Prates é MuriloNina Reis é MirtesPaula Loffler é MiriamRogério Garcia é RodrigoJojo Rodrigues é EstefâniaLuana Salazar é Clarice
Banda sonora e desenho de som: Phillippe BaptisteDesenho de luz: Renato MachadoFigurinos: Nina ReisAssistência de figurino Yanna BelloCenotécnico: Marcelo DertonioAssistente de produção e direção: Lays ArioziAssessoria de imprensa: Gabriela MotaProgramação visual e redes sociais : Paula SattaminiFotos: Linn Jardim
Serviço:Direção: Alexandre MelloTexto: Leandro Baumgratz
Elenco: Eliane Costa, Oscar Saraiva, Guilherme Prates, Nina Reis, Paula Loffler, Rogério Garcia, Jojo Rodrigues, Luana Salazar
Local: SESC Tijuca (Teatro 01) Rua Barão de Mesquita, 539 TijucaEstreou: 12 de fevereiro/ 2016Temporada até 28 de fevereiro (sextas, sábados e domingos às 20h)Telefone: 32382139Gênero: TragicômicoClassificação Etária: 12 anos
Assessoria de Imprensa – Gabriela MotaEmail: gabimota07@gmail.com
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